quarta-feira, janeiro 26, 2005

Tens uma piadinha...

Vou hoje cumprir um dos meus sonhos de vida, que é fazer um post que sirva dois propósitos: no presente caso, uma homenagem e uma piada seca.

Primeiro, a homenagem: queria agradecer a essa grande instituição que é a RUC, pelas horas de desespero que me têm proporcionado ao longo destes anos a ouvir os relatos dos jogos de futebol da Académica. Não pelo desespero, mas por tornarem esse desespero de alguma forma mais agradável. Diálogos sobre sopa da pedra, leitão ou chouriços assados, reflexões filosóficas (ainda hoje, um saboroso "Será que se pode ter saudades de uma coisa que nunca se teve?", a propósito de Marcel), reportagens exclusivas (por exemplo a entrevista ao amigo imaginário de um reporter cujo nome agora me escapa), minutos 69 (o de hoje foi particularmente bonito), observações pertinentes ("Penteados como esse? Meu amigo, deixaram de se usar nos anos setenta") e metáforas deliciosas ("Futebol sem cerveja é como uma máquina de lavar sem meias sujas"). Obrigado RUC.

Agora, a piada seca:
Hoje perdemos contra o Marítimo para a Taça. Comentário de um gajo estúpido:
"metes-te num clube muito negro, depois dá nisso :D"
Fiquei deprimido.

16 comentários:

RedScout disse...

Esqueceste-te de referir o enorme profissionalismo das pessoas que normalmente acompanham os jogos da Briosa. Falo, obviamente, das análises 100% imparciais sobre o trabalho do árbitro ou sobre a exibição das equipas... Ou não...

Porky disse...

Bem lembrado, Sr.RJT! A RUC é a piada seca das rádios. Eu gosto muto de ouvir a RUC, mesmo quando colocam programas que basicamente imploram para que se mude de estação. Estou a lembrar-me de um em que sobrepunham música pimba de muito má qualidade, já para não falar das grandes sessões de experimentalismos diversos.

Tudo na RUC é uma piada seca. Só numa rádio deste tipo é que o programa matinal começa às 10 horas da manhã ("Praça da Agonia"). Os jingles são geniais. Vou dar-me ao trabalho de transcrever um (sei-o decor, mas não garanto 100% de fidelidade ao original):
- Boa tarde, queria um bilhete para Lisboa para não fumador, com desconto capitão jove...
- Fale mais perto do higiafone por favor.
- Era um bilhete para Lisboa para não fumador, com desconto capitão jovem.
- Traz o capitão consigo?
- Não, o capitão encontra-se hopitalizado.
- Tem algum comprovativo?
- Sim. Trago a radiografia do ombro direito do capitão, autenticada pelo notário.
- Coloque aqui no negatoscópio se faz favor... aqui tem o seu bilhete, faça boa viagem...


Devo dizer queser ouvinte da RUC nem sempre é fácil... mas vale a pena! Obrigado Sra.RUC!

Sofia Bento disse...

A RUC tem outras maravilhas:
De Domingo para Segunda e de Segunda para Terça, Íntima Fracção.
Quem não mora em Coimbra pode fazer o download aqui.
Este é o programa mais antigo da rádio portuguesa que ainda existe.
Desculpem, este comentário é completamente despropositado, neste local, mas não resisti.

RJT disse...

RedScout, estás a querer dizer que a razão pela qual o jogador votado como o melhor em campo é sempre da Académica não é porque o melhor jogador em campo é sempre da Académica?

Paulo Sacramento disse...

Vou experimentar um novo estilo: o do post formalmente, porque cheio de redundância, incorrectíssimo.

Não posso deixar de aproveitar esta deixa para me juntar a esta mais que merecida homenagem e juntar também aos exemplos dados, dois outros exemplos (algumas partes foram exageradamente ficcionadas, mas não se nota nada. Outras partes foram inspiradas em pouco conhecidas sagas cinematográficas, mas isso ainda se nota menos):

Episódio 1 (a.k.a. A Ameaça Radiofónica):

- Vamos passar desde já a emissão ao nosso repórter de campo, Eurico Dourado(nome fictício)
- (silêncio)...(mais silêncio)
- Bom, parece que não é possível entrar em contacto com o nosso repórter de campo. Vamos tentar outra vez. Alô Eurico?
- (mais silêncio)...(ainda mais silêncio)
- Bom, parece que de facto não é possível estabelecer contacto com o nosso repórter de campo...(é interrompido bruscamente)
- Sim, sim, estou aqui, fui só comprar um pacote de amendoíns.

Episódio 2 (a.k.a. O Ataque dos Chicos-Esperto):

- O Freddy tem um penteado um bocado estranho, não tem?
- Sim, de facto...é um penteado não muito ortodoxo.
- (entra em campo, no sentido figurado, o repórter no estúdio)Podem dizer à vontade. o Freddy tem um penteado abichanado.

O Episódio 3, curiosamente, ainda não existe. Apesar disso, existem os episódios 4, 5 e 6, embora eu não seja desses tempos em que a RUC tinha nos seus quadros gente como o Eça e Queirós ou o Miguel Torga:

5 minutos para o início do encontro. Na telefonia ouve-se um novo single intitulado "Pobres mas felizes".
Minuto 0. Começa o jogo.

- Assoma pelo prado verde Venâncio da Cruz Espadachim. O seu companheiro de tantas jornadas grandiosas, Tomé da Conceição Estevão, tem na sua posse aquele sublime objecto de forma aproximada e nunca perfeitamente esférica pelo qual se degladeiam cerca de uma vintena de anormalidades fenomenológicas do quantum espacio-temporal, a cada ciclo de sete rotações do terceiro planeta do Sistema Solar sobre o seu próprio eixo. Observa, através da penumbra que invadiu o Calhabé neste dia em que Lusitanos crentes anseiam pela chegada de El-Rei Dom Sebastião, a incursão de Venâncio da Cruz Espadachim pelo lado cujo nome se deve ao facto de o extremo do membro superior correspondente ser usado na antiguidade para a higiene pessoal, e endossa-lhe...

Minuto 90. Final do jogo.

Unknown disse...

Oh Day, estou a ver que a estadia em Itália está a fazer-te bem! ;)

Paulo Sacramento disse...

No seguimento do meu último comment, tenho de partilhar convosco uma peça do meu grande amigo e primo Nuno, que tem 15 anos, mas com que eu me dou extremamente bem. Ele já ganhou um prémio literário, o que me surpreendeu um pouco, mas depois de ler isto, que ele escreveu em resposta a um e-mail que eu lhe enviei nos moldes do meu comment, não mais fiquei surpreso. Muito giro (era um e-mail informal, tem alguns erros ortográficos):

"Pois é depois de ler tal obra prima digna de um qualquer grande escritor Português do séc XIX (tipo Gabriel Alves) a minha reação pauto-se por uma sonora gargalhada que imediatamente se transformou num massajar ao nível do quiexo acompanhado por uma pequeno som do género "hummm", o qual possuía ainda um breve inclinar de cabeça ora para a direita ora para o sentido imediatamente oposto. . .
De seguida ocorreu-me um pensamento que era nada mais nada menos isto: " -Tenho que responder", mas pensei eu não serei capaz de escrever um e-mail de resposta com a qualidade a que está obrigado, sim porque é meu intuito um dia escrever e-mails capazes de competir com os melhores do Mundo e talvez, com algum treino, com os melhores da Europa, mas no momento actual isso ainda não é uma realidade. Depressa percebi então que o meu talento natural não era suficiente, e então iniciei as dilêngencias necessárias para poder contar com ajuda suplementrar na elaboração desta preciosidade.
A primeira medida tomada foi olhar para o céu (estava escalfado), fechei os olhos, abri os braços em linha perpendicular a cabeça e de mãos bem abertas disse: "- Óh céu dá-me inspiração", o resultado no entanto revelou-se infrutífero contínuou, para meu espanto, tudo rigorasamente como estava. Tomei então uma segunda medida que foi nada mais nada menos que dirigir-me à praia, de joelhos na areia e fitando o mar com os olhos bem fechados estendi os braços e disse: "-Óh mar dá-me inspiração", desta vez o resultado foi totalmente diferente é certo que não veio inspiração nenhuma, o que veio foi uma onda um nadita maior que me molhou ao nível dos tornozelos, o que foi uma maçada. Mas eu não desisti, dirigi-me ao esquentador colocado n cozinha imediatamente à direita quando-se entra, abri a porta de madeira, e com os olhos bem abertos na direcção do piloto disse: "-Óh fogo dá-me inspiração", mais uma vez o resultado foi diferente de tudo o que tinha acontecido antes, a inspiração , é certo, não apareceu, o que aconteceu foi que na casa de banho alguém puxou água quente o piloto disparou e eu dei um salto que me ia borrando todo. Perdidos que estavam estes três elementos e à falta de ideia melhor dirigi-me ao Centro de Saúde, onde trabalha a minha mãe, porque pensei que talvez um médico me pudesse ajudar, e assim foi encontrei um no corredor e disse preciso de inspiração... não sei muito bem e tal, e pronto levou-me para uma sala e estivemos lá quase 10 minutos ele mostrou bastantes slides sobre ofuncionamento da caixa toráxica com o aparelho respirátório, mas não era quilo que eu queria objectivamente. Estava menmo a desistir quando me ocorreu aquela que viria a ser a derradeira ideia para me ajudar, convidei o Petit (sim, o do slb), para me ajudar a escrever o e-mail, porque é certo e sabido melhor Português do que o dele é díficil..."

RJT disse...

o puto faz-se

Sofia Bento disse...

Faz-se mesmo. Deve ser de família.

RJT disse...

Sim, de facto, pelo que eu conheço, a genética foi particularmente simpática com essa família.

Paulo Sacramento disse...

É engraçado. Penso muitas vezes para comigo como tive azar com os meus genes. Parece-me que têm uma influência decisiva na nossa vida, para o bem e para o mal. Fizeste muito bem em dizer "pelo que conheço". De facto, é muito diferente ver as coisas de fora e de dentro :)

Paulo Sacramento disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
RJT disse...

Como diria um certo e determinado pseudo-intelectual, será que se pode conhecer verdadeiramente alguém?

Porky disse...

Sim, gostei bastante do estilo do miúdo. O texto está recheado com pequenas péroloas embutidas (como a do o céu escalfado) nesta verdadeira jóia literária... bem, não é bem uma jóia já que, apesar de se notar um talento nato, existe algum descuido e informalidade, revelado pelas incorrecções ortográficas e por partes de estilo (não sei se propositadamente) Saramagoniano.

Mas tem grande futuro.

Paulo Sacramento disse...

Eu gosto particularmente da frase "Perdidos que estavam estes três elementos..." numa referência ao pedido de inspiração ao céu (vento), ao mar (água) e ao piloto do esquentador (fogo), três elementos da Natureza. É tão brilhante que, conhecendo o puto como eu conheço, é assustador...

Porky disse...

Notava-se perfeitamente a busca so pequeno infante pela inspiração nos elementos. Senti mesmo a falta do 4º elemento (e porque não do 5º?).