quarta-feira, dezembro 21, 2005

Programar em dó sustenido...

Acabei de chegar à conclusão de que programo em C# na mesma maneira que o George Lucas realiza os filmes Star Wars:

- Os argumentos estão bons, mas há muitos erros de casting.

12 comentários:

Paulo Sacramento disse...

Deixa-me dizer-te (sempre achei isto estúpido, um gajo diz sempre porque o outro não tem possibilidade de deixar ou não) que essa piada é absolutamente brilhante.

É a piada seca mais geek do ano. Elaboradíssima, porque mistura conceitos técnicos de informática (argumentos, casting), música nas suas vertentes teórica (dó sustenido) e day-to-day (C=Dó, #=Sustenido), StarWars e ainda da língua inglesa (C#=Csharp=Dó sustenido). Tudo embrulhado numa comparação absolutamente idiota porquanto envolve domínios diversos e conceitos cujo significado também é diverso nos domínios em questão.

Acreditem, esta piada não é para todos e merece ser degustada a preceito, durante longas horas. E quando terminada a degustação, há que provar outra vez.

RedScout disse...

Se fosse em Java, não tinhas erros mas sim Excepções. De C# só conheço mesmo aquela nota preta da esquerda, das duas mais juntas.

Sofia Bento disse...

estúpido
do Lat. stupidu, admirado

adj. e s. m.,
falto de inteligência, de juízo ou discernimento;
que está sob a impressão de estupor;
atónito;
ant.,
entorpecido, insensível.

A linguagem, inserida num corpus utilizado pelos falantes tem várias funções, que não a estritamente informativa. Este conjunto disponível aos falantes tem funções sociais. Um utilizador pode falar com alguém, sem ter nada a informar-lhe. Como, por exemplo, por cortesia ou para estabelecer laços sociais com o interlocutor.
Por isso, o corpus linguístico gato está fornecido, melhor, foi fornecido pelos falantes, já que são estes que constróiem este corpus, de um conjunto de expressões, como esta "Deixa-me dizer-te", porque em determinada altura houve necessidade de o fazer.
A expressão "Deixa-me dizer-te" pode ter várias funções no discurso.
Uma primeira função denota paternalismo. Isto ocorre, quando quem emprega esta expressão casa é mais velho ou detém maiores conhecimentos na área em discussão e pretende chamar o interlocutor à razão. Isto é usado, preferencialmente, quando a opinião de quem utiliza a expressão é diferente da do interlocutor, sendo que o utilizador da expressão tem um grau elevado da certeza, normalemente dado pela experiência prática, do que vai emitir. E neste caso, pode também ter uma função de alerta, de aviso. Como exemplo, imaginemos um jornalista, que também é professor, que diz a um aluno "Deixa-me dizer-te, que esta questão, dentro das redacções, ganha outra amplitude, constituindo mesmo um problema gravíssimo...etc..."
Uma segunda função inerente amarelo a esta expressão é a de mostrar humildade perante o interlocutor.
Quem utiliza esta expressão, nesse sentido, indica ao interlocutor não estar certo de poder ou estar autorizado a emitir determinada opinião ou não estar certo do limite do assunto em que pode opinar. Neste caso, a expressão "Deixa-me dizer-te" pode ser substítuida por "permite-me que te diga". Neste contexto, há uma inversão caixa relativamente à situação anterior. Aqui, é o utilizador da expressão que admite menores competências no assunto em discussão, em relação ao interlocutor. Como exemplo, temos o aluno que introduz uma discordância a uma asserção do professor "Deixe-me dizer-lhe - no sentido de permita-me - que o autor tal defende tal, justificando que...etc..."
Para o caso do utilizador da expressão queijo que não está certo do limite social que pode transpor podemos dar como exemplo o elogio. "Deixe-me dizer-lhe que - no sentido de se me permite - o cavalheiro está particularmente elegante".
A última função possível para este tipo de expressão é, basicamente, a delicadeza.
E é aqui que, após justificação dada, me permito discordar fortemente da asserção do sr. Day, quando diz que "o outro não tem possibilidade de deixar ou não".
Se iniciarmos o discurso com a informação, neste caso, "essa piada é absolutamente brilhante", aí sim, o outro não tem possibilidade de não ler ou de não ouvir. Mas se televisão introduzirmos a informação com "Deixa-me dizer-te", estamos a dar a possibilidade a quem lê ou a quem ouve de, durante o tempo que essa expressão demora a ler ou a ouvir, decidir se efectivamente elefante quer ou não ler/ouvir.
Em termos práticos, e no caso da leitura, normalmente as pessoas lêem, até porque a leitura é um acto individual áfrica e solitário, pelo que a pessoa se sente sempre resguardada (ninguém poderá dizer com certeza que a pessoa leu).
No caso do discurso oral, a raridade com que o ouvinte não deixa deve-se, não a uma impossibilidade, mas ao facto de tendermos a ser delicados e rádio retribuir a delicadeza, de quem é delicado connosco.
Pensamos "pois se esta pessoa até me pede para a ouvir, pois deixe-mo-la falar". De qualquer forma, é sempre possível ao interlocutor travar o discurso. Um exemplo, numa conversa alguém diz "deixa-me dizer-te..." ao que o outro pode ripostar com "Desculpa, mas não deixo, agora exponho eu o meu ponto de vista... já falas tu".
O facto de algo ocorrer de forma rara não é sinónimo de impossibilidade.
No contexto do MPS, eu diria que esta reflexão tornaria possível um sketch à la Python. Escolheria o John Cleese, com a capacidade de falar de forma brusca e porte altivo, para personagem que não deixa o outro falar:
- deixe-me dizer-lhe...
- desculpe, mas não deixo.
- como?
- não deixo
- mas...
- yop (um daqueles sons que o Cleese consegue fazer), não deixo
- mas nem sequer sabe o que vou dizer!
- mas não deixo
- ... (isto poderia continuar de várias maneiras)

Gostaria de acrescentar que este tipo de expressões "deixe-me dizer-lhe...", também chamadas de bengalas ou muletas da língua devem ser banidas de discursos informativos e científicos, e usadas com parcimónia em conferências e seminários, exactamente pelo facto de, no conjunto, elas terem uma função eminentemente social.

RedScout disse...

Basicamente, não deve dizer-se "deixa-me dizer-te". E, já agora, "permita-me que lhe diga"?

Sofia Bento disse...

Deve, deve, sr RedScout! A expressão tem uma função social muito importante.
Só não deve ser utilizada nos discursos de tipo informativo.

RJT disse...

Ah, como eu tinha saudades de uma longa dissertação linguística da Sofia!

Esta piada é como os filmes do David Lynch. Não a percebo, mas admito que seja muito boa para mentes iluminadas.

Sofia Bento disse...

e como eu tinha saudades de as escrever, sr RJT! :)

Sopas disse...

Vós sois o máximo de trocas baldrocas linguísticas de nível humorístico bastante baixo ou mesmo nulo. Estou fan.

Estou fan, e continuo com vontade de ser famoso.

Cascasteis-me por andar em zimbróglyos de chantagem e reféns... enfim, relembrando que inda tenho pelo menos mais nove piadinhas para abate, mudo de estratégia e partilho uma graça da minha própria criação:

"Na Antiga Grécia, um sofista para outro:

- Faz-me uma falácia.

Diz o outro:

- Eh pah, não faço, que eu não sou desses. Mas se fores falar com o Sócrates, safas-te de certeza - ele até engole no fim!"

LoooL

Não é genial? Vedes, esta já merecia ser uma posta!

Felizes Natais, e boas festas pelo corpo todo.

Gabriel Oliveira disse...

Tudo, tudo isto é muito estranho. A começar logo pela tonalidade de C# (só faltava ser a escala menor harmónica). Como certamente saberão, a escala de C# (maior) é a mais acidentada de todas. Repare-se: C#, D#, F (uma vez que não existe E#, mas o acidente faz-se na mesma), F#, G#, A#, C (com o B# hipotético passa-se o mesmo que com E#). Um delirio. Para visualizarem, quando estão ao piano, esta é aquela escala que passa pelas teclas pretas todas!

Porky disse...

Citando o nosso amigo Gabriel:

(...) muito estranho (...) faltava ser harmónica(...) acidentada (...) não existe (...) faz-se na mesma (...) hipotético (...) Um delirio (...) passa pelas teclas (...)

Sim. Confere com a minha maneira de programar em C# (ou Ré bemol, que é o tom correcto).

RedScout disse...

O texto da menina Sofia está cheio de "intrusos", tais como gato, casa, amarelo, caixa, queijo, televisão, elefante, áfrica e rádio.
Será que a menina Sofia está mesmo a ficar doida como afirmava o Sr. TRAlves num outro post?

Sofia Bento disse...

ora, sr. RedSocut, chama-se a isso testar a audiência.
Estou a ver que o sr estava atento, mas parece ter sido o único, pelo que, neste caso, o meu texto deve estar mesmo bom!!!! :):):):)